O Tempo caderno: Economia
Ninguém sabe ainda o tamanho da crise dos Estados Unidos, nem os efeitos dela no Brasil. Na dúvida do que ainda está por vir, representantes do mercado imobiliário, da construção e até mesmo dos mutuários afirmam: se você já está pensando em comprar um imóvel, é melhor comprar agora. No ano que vem, alertam eles, os juros podem subir. Mesmo que isso não aconteça, os critérios de aprovação de crédito podem ficar mais rigorosos, dificultando o sonho da casa própria. O que tem aumentado a dúvida sobre o melhor momento de adquirir o imóvel é a possibilidade de queda nos preços. O raciocínio é o seguinte: consumidores mais cautelosos levam à queda na procura, o que forçaria o mercado a reajustar os valores para baixo. A reportagem ouviu cinco construtoras e todas responderam que, ao contrário do que se imagina, os preços não vão cair. Pelo contrário, podem até ficar mais caros, se o custo do material de construção continuar a subir.
Nos últimos 12 meses até setembro, o Custo Unitário da Construção (CUB), acumula alta de 15,2% em relação ao mesmo período de 2007. De acordo com diretor comercial da Gran Viver, Fernando Drumond, o aumento dos custos foi bem maior do que a inflação medida pelo INPC, acumulada em 7,04%. "Entendo que agora é um bom momento para comprar, pois os imóveis tendem a continuar subindo um pouco." Para Drumond, a oferta de crédito não será problema, já que a Caixa Econômica Federal está sinalizando que manterá suas linhas de crédito e o governo está lançando medidas para garantir liquidez e irrigar as construtoras. "O que pode acontecer é um rigor maior na hora de exigir comprovação de renda, devido ao medo da inadimplência."
Segurança. Segundo o diretor-presidente da RKM Engenharia, Ricardo Alfeu, vale a pena comprar o imóvel agora, pois nenhum investimento está oferecendo uma rentabilidade tão atrativa que compense deixar o dinheiro aplicado. "A poupança que a pessoa fez para comprar o imóvel deve estar em algum lugar, então este dinheiro corre o risco de se perder, já que a bolsa está em queda, o dólar está caindo e os juros tendem a estabilizar." Na opinião do gerente de novos negócios da Direcional Engenharia, Guilherme Diamante, quem está apostando em queda nos preços provocada por redução na demanda está enganado. "Para se ter uma idéia do tanto que a demanda está aquecida, já vendemos 30% de um empreendimento que ainda nem lançamos oficialmente, em Belo Horizonte", afirma.
Oportunidade.
O diretor comercial da Arco Incorporadora, Herberth Moreira, afirma que alguns bancos privados podem até elevar as taxas de financiamento imobiliário, mas a Caixa deve manter os mesmos patamares. "Não é que seja um bom momento, mas é melhor comprar agora, porque em 2009 pode ser que o cenário mude", considera. Para o diretor da Patrimar Engenharia, Marcelo Martins, o que deixa o amanhã mais arriscado para quem quer comprar imóveis é a possível dificuldade de acesso ao crédito, não por parte do consumidor, mas das empresas. "Se as empresas não conseguirem dinheiro para alavancar os negócios, não terão como fazer lançamentos e a oferta vai cair mais", ressalta Martins. O presidente da Associação dos Mutuários e Moradores (AMM), Adilsson Machado, afirma que vale a pena comprar agora para aproveitar a estabilidade das taxas de juros. Entretanto, ele acredita que as condições ainda serão favoráveis no ano que vem.
Do aluguel para a prestação, sonho de dez anos realizado
Depois de pelo menos dez anos de aluguel, o técnico de automação Everton Pereira Aguiar, 41, finalmente comprou a própria casa. Na última sexta-feira, ele levou a mulher, Adriana, e um dos dois filhos, Vinícius, para assinar o contrato do imóvel. Ele, que pagava cerca de R$ 300 de aluguel, assumiu prestações de R$ 422. "Parcelei em 180 meses, mas pretendo quitar antes desse prazo", conta Aguiar, que usou o Fundo de Garantia para dar entrada. A reportagem perguntou se a decisão de comprar o apartamento foi apressada pela crise. A resposta, dada entre sorrisos de quem acaba de realizar um sonho, foi não. "Já estava procurando há muito tempo, apareceu uma ótima oportunidade, como queríamos, e aproveitei." (QA)
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Minientrevista
Marivaldo AraújoGerente regional Caixa Econômica
“Se tem condições de comprar agora, não há porque esperar”
A demanda por financiamentos de imóveis registrou queda depois que a crise dos Estados Unidos estourou?
Ainda não sentimos nenhuma retração na procura. Pelo contrário, como alguns bancos privados elevaram as taxas de juros e reduziram carteira de crédito, a Caixa Econômica atraiu mais clientes.
Há previsão de que essa redução ocorra a partir do ano que vem?
Não prevemos queda, mesmo porque a oferta de imóveis disponível no mercado ainda é insuficiente para atender a demanda incipiente.
Como está o ritmo de liberação de crédito habitacional até agora? As metas de 2008 serão cumpridas?
Até 15 de outubro, a Caixa emprestou cerca de R$ 9 bilhões só de recursos do FGTS. O volume ultrapassou a meta, que era de R$ 8 bilhões, isso prova que a demanda está aquecida. Para Minas Gerais, foram liberados neste período R$ 1,9 bilhão, incluindo também recursos da poupança.
Quem está pensando em comprar um imóvel deve fazer isso já?
É uma decisão de uma vida, se o consumidor tem condições de comprar agora, não há porque esperar, principalmente se viu que o financiamento cabe no orçamento e achou o imóvel ideal. Mas as condições não devem ser muito diferentes em 2009. A intenção da Caixa é manter os juros e os critérios de aprovação de crédito.
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
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